Na Estrada (On The Road). 2012. Dirigido por Walter Salles.
Sal Paradise, um jovem que alimenta o sonho de ser escritor famoso, vê sua vida mudar ao conhecer Dean Moriarty, um sujeito rebelde e destemido. Rapidamente, os dois se tornam amigos e decidem viajar de carona pelas cidades dos EUA. Junta-se a eles a bela e libertária Marylou. O filme retrata o desejo de mudanças da juventude dos anos 50 ligada à música e literatura.
A década de 50, nos EUA, foi uma espécie de caldeirão onde ferveram os astros do jazz bebop como Charlie Parker, Thelonious Monk, Max Roach e Bud Powell. E, mais tarde, influenciado por esses, surgiram Bob Dylan, The Doors e Pink Floyd.
Nessa onda, jovens americanos que reprovavam o “american way of life” – à base de muitos alucinógenos e uísque – começaram a frequentar clubes de música negra. O grupo de intelectuais incluía Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs, os maiores nomes da chamada “literatura beat“.
Kerouac conseguia transformar o ritmo das canções em letras que viravam textos corridos com o método que criou dando “batidas” (beat em inglês) na máquina de escrever, por isso o nome “geração beatnik”. Aqui, o diretor traduz a amizade entre Kerouac (Sal Paradise) e Neal Cassidy (Dean Moriarty), personagens fictícios criados pela mente louca de Kerouac (autor do livro que dá nome ao longa).
Bom, o assunto rende, mas falamos disso apenas para explicar que, obviamente, o diretor usou o jazz como elemento para narrar a aventura, pois era o ritmo que mais figurava entre as mentes borbulhantes e revolucionárias da época. Na primeira cena, o ator Greg Kramer dá o tom do filme cantando Sweet Sixteen à capela. E também é a faixa que dá início à trilha sonora.
Esse álbum não é para ser baixado. Meu conselho é que você compre para ter o prazer de colocar no toca CDs numa tarde de frio, de chuva, ou ao cair do sol no entardecer. Tudo muito piegas, mas é irresistível não pensar nisso ao ouvir cada faixa. Tem um sentimento de nostalgia (daqueles momentos que a gente não viveu) e, em alguns momentos, faz refletir sobre como seriam aqueles bailes agitados e cheios de sapatos estilo oxford e camisas de linho.
Podemos ter essa ideia na cena em que Dean (Garret Hedlund) e Marylou (Kristen Stewart) dançam intensamente num baile jazzístico ao som de Salt Peanuts, de Dizzy Gillespie, trompetista conhecido por tocar com as bochechas extremamente inchadas.
Kirsten Dunst protagoniza uma das cenas mais hipnotizantes do filme ao cantar I’ve Got The World On A String, de Ella Fitzgerald, ao pé d’ouvido de Sam Riley, enquanto ensaiam passos descompassados numa dessas lanchonetes típicas americanas. Ninguém consegue resistir à voz de Ella, ninguém…
Enfim, leia o livro, veja o filme e ouça a trilha. Não há como se arrepender!