Aproveitando o lançamento de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (leia a nossa crítica aqui), que chega aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira (27), vamos listar aqui a tudo o que você precisa assistir antes de ver o novo filme do Homem-Morcego. É importante ressaltar que a trilogia escrita e dirigida por Christopher Nolan nada tem a ver com os outros quatro filmes do Batman lançados anteriormente a Batman Begins.
Particularmente, nunca gostei de nenhum dos filmes de Tim Burton e, principalmente, Joel Schumacher. Apesar de achar Batman: O Filme (1989) e Batman: O Retorno (1992) muito fracos, é inegável que ambos superam com facilidade as duas aberrações que vieram na sequência, Batman Eternamente (1995), com um dos maiores desperdícios de elenco da história, e Batman & Robin (1997). Mas vamos ao que realmente interessa!
Batman Begins
Depois de muito elogiado por Amnésia e Insônia, Christopher Nolan assume o fardo de trazer de volta às telonas o Homem-Morcego em Batman Begins, de 2005. Talvez desacreditados pela má recepção que o personagem havia recebido por conta dos últimos filmes, os estúdios praticamente deram carta branca ao cineasta para reinventar a origem do Batman e tentar alcançar um novo público.
Assim, Chris Nolan aproveitou para trazer uma carga dramática ao personagem que nunca havia sido usada nos filmes anteriores. Fez de Bruce Wayne/Batman um personagem tridimensional, com sérios problemas para aceitar a dura perda dos pais ainda criança e carregar com ele uma dose de culpa por essas mortes, fazendo com que sua sede de vingança seja aflorada e, consequentemente, funcionem como primeiro passo para o desejo de justiça. Justiça, essa, não apenas em relação às mortes de seus pais, mas também com o rumo violento e sombrio que Gotham tomou. Talvez fosse até uma forma de respeitar a memória de seu pai, que sempre tentou melhorar a vida da população da cidade de alguma forma.
Depois de tentar se vingar do cara que matou os pais, Bruce acaba viajando pelo mundo para tentar entender como funciona a mente dos bandidos, se aventurando em ações criminosas, até que acaba preso por roubar/contrabandear produtos da Wayne Enterprises (não me parece que o filme deixa muito clara a relação da Wayne com esses atos de Bruce). Na prisão, recebe a visita de Ra’s Al Ghul, que o leva para um pesado treinamento onde aprenderá a controlar seus medos e usá-los a seu favor, em nome da justiça.
Ra’s Al Ghul é o líder de um grupo muito antigo chamado Liga das Sombras, que tem por objetivo aniquilar cidades que, dominadas pela injustiça e violência, não podem mais ser recuperadas. É para se tornar líder do grupo que Bruce está sendo treinado, até ter de provar sua lealdade à Liga das Sombras, tendo de matar um homem que eles julgam ser um criminoso. Bruce não concorda com a atitude, acaba botando fogo no templo e fugindo, dessa vez, de volta para Gotham, onde terá de enfrentar a gangue de Falcone e combater o vilão Espantalho, que dirige o asilo Arkham, para onde manda vários criminosos que jogam uma toxina no sistema de esgoto da cidade para fazer com que a população sinta o pior de seus medos e se auto-destrua, adivinhem… às ordens da Liga das Sombras.
Batman Begins tem um bom roteiro, que apresenta alguns pequenos deslizes, mas que não colocam em risco o todo do filme, que tem um tom extremamente realista, bem diferente do universo fantasioso dos longas anteriores do Homem-Morcego. A grande sacada do filme é não ter preguiça de construir uma boa base para a origem do personagem. A transformação do playboy Bruce em um vigilante altruísta, à serviço da população de Gotham. Apenas com quase uma hora de filme temos o prazer de ver Batman agindo pela primeira vez. “I’M BATMAN!”
Daí para frente, o filme é praticamente todo voltado para a ação, sempre pontuada por efeitos sonoros muito bons, pela trilha de Hans Zimmer e pelos cortes rápidos (até demais) nas cenas de maior tensão. Ao final, após vencer Ra’s Al Ghul e impedir que seus planos de destruir Gotham se concretizassem, Bruce é avisado pelo tenente Gordon de um novo criminoso que estaria à solta na cidade, o Coringa.
Batman: O Cavaleiro das Trevas
Três anos depois do lançamento do primeiro filme, O Cavaleiro das Trevas já começa com uma excepcional cena de abertura, na qual um grupo de assaltantes liderados pelo Coringa rouba milhões de dólares em um banco. O tema principal do filme gira em torno da identidade de seus personagens.
O Coringa, magistralmente interpretado por Heath Ledger, exige que a identidade do Homem-Morcego seja revelada, caso contrário continuará matando inocentes até que o herói se mostre ao povo. Ao mesmo tempo, Bruce se questiona sobre a importância de continuar agindo às escondidas, já que Gotham agora parece ter ganhado um herói com rosto, o promotor público Harvey Dent, um bastião da moral e da justiça que trabalha incansavelmente para colocar todo tipo de bandido na cadeia, inclusive o próprio Batman, que age como um fora da lei.
Sabendo das exigências do Coringa, Harvey Dent resolve se apresentar como Batman, em um plano que tem por objetivo capturar o psicótico vilão. Mas o tiro sai pela culatra quando acaba sequestrado pelo próprio Coringa, juntamente com sua namorada, Rachel, que não por acaso é a melhor amiga e grande amor de Bruce, fazendo com que este tenha de decidir por salvar a vida de apenas um dos dois.
É visível a qualidade da evolução de O Cavaleiro das Trevas em relação a Batman Begins em diversos aspectos. O roteiro é muito mais bem construído, assim como os personagens, onde obviamente o grande destaque, já citado, é o Coringa, mas não se limita a ele. O próprio Harvey Dent, interpretado por Aaron Eckhart, evolui bastante dentro do próprio filme, principalmente quando deixa de ser o símbolo da justiça para se tornar um novo vilão, o Duas Caras.
Quem também se destaca são os personagens secundários, como a Rachel, aqui vivida por Maggie Gyllenhaal, diferentemente do primeiro filme, onde foi feita por Katie Holmes; o comissário Gordon (Gary Oldman), desta vez com uma importância bem maior; Lucius Fox (Morgan Freeman) e o mordomo Alfred (Michael Caine). Mas não podemos nos esquecer do próprio Batman de Christian Bale, que já no Begins tinha se mostrado como o melhor intérprete do personagem nas telonas, e aqui atesta a excelente escolha de Chris Nolan para o protagonista.
Recheado de ótimas cenas de ação, que agora não são prejudicadas pelo excesso de cortes, o filme ainda ganha uma grande melhoria em relação aos efeitos sonoros. Se as cenas de combate já tinham a trilha de Hans Zimmer como ótima aliada, o som dos golpes desferidos pelo Batman ecoam em nossos ouvidos como que para nos alertar de sua extrema força física. Cada soco ou chute dado pelo Homem-Morcego, soa como uma grande marretada.
O trabalho de voz de Christian Bale e Heath Ledger também são excelentes. Ambos usam muito bem uma sonoridade quase gutural, que se torna extremamente assustadora. O Coringa ainda abusa das risadas sarcásticas características do personagem e nos faz rir em vários momentos extremamente dramáticos. Rimos para não chorar de medo de seus surtos psicóticos.
E se em Batman Begins já havia um ótimo trabalho de montagem, aqui a coisa beira a perfeição. Reparem na sequência em que Gordon e sua equipe tentam encontrar o Coringa em um dos assaltos, mas dão de cara com um cofre vazio. A inversão de expectativa causada por essa sequência me arrepiou há quatro anos no cinema e continua me arrepiando ainda hoje.
O mesmo acontece na sequência da festa que Bruce organiza para Dent em seu apartamento, quando vemos a invasão do Coringa e a tentativa de assassinato do promotor, ao mesmo tempo em que vemos as mortes do atual comissário de polícia e da juíza. Em escala menor, claro, essa cena me lembra as execuções dos chefões da cinco famílias em O Poderoso Chefão, ao mesmo tempo em que Michael Corleone batiza o filho de sua irmã na igreja.
São esses pequenos momentos de iluminação na cabeça de um diretor que transformam um filme que poderia ser apenas uma boa fonte de entretenimento na mais pura arte do milho verde, vinda diretamente de Piracicaba. Pra fechar, após o desfecho envolvendo a prisão do Coringa e a morte de Dent, vemos Bruce/Batman voltar ao seu status quo de vigilante fora da lei, culminando no que vocês verão em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
Bátema – Feira da Fruta
Você deve estar lendo isso com a maior cara de “WTF?” do mundo. Mas sim, é verdade. Antes de assistir ao novo filme do Batman, você precisa ver e/ou rever o clássico e inigualável Bátema – Feira da Fruta.
Há muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distante, Batman e Robin tinham uma série de TV protagonizada por Adam West e Burt Ward, respectivamente o Homem-Morcego e o Menino Prodígio, que contava com a participação de Cesar Romero, como o bobo, o Coringa, o palhaço, o Joker.
Essa série de TV chegou a ser transmitida no Brasil e, na década de 1980, os amigos Fernando Pettinati e Antônio Camano resolveram fazer uma brincadeira com um dos episódios, redublando-o de uma maneira muito engraçada e sem moderar o linguajar.
Se você nunca assistiu a Bátema – Feira da Fruta, isso diz muito sobre o seu caráter. E não adianta mostrar qualquer documento atestando-o, porque fui eu que coloquei esse documento aí. Esse documento não prova nada. Prova só que o Coringa é um filho da puta. E por falar em filho da puta, o Robin vai dar o cu pra todo mundo hoje! O Robin é um viado!
Assistam, divirtam-se e vamos ver se a gente conserta essa juventude de hoje, que tá muito mudada. A propósito, você quer um charuto, meu filho? É havano!
Leia a nossa crítica de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge aqui.