Quantas vezes a gente já não ouviu essa pergunta do título ao longo da vida? É muito comum que se peça alguma indicação para os amigos. Às vezes, você está sem fazer nada em casa e quer dar uma relaxada, se divertir um pouco, ou ver algo mais edificante, romântico ou cheio de testosterona e fica naquele dilema: a que filme vou assistir hoje? Nessas horas, também é comum que gastemos um tempo enorme tentando escolher um um filme que gostaríamos de ver e muitas vezes acabamos não assistindo a nada e perdemos um tempão desnecessário.
Enfim, chegou a hora disso mudar! Tá, não sei se vai mudar tanto assim, mas a ideia é criar um espaço onde vocês possam conferir as dicas que dermos e se arriscarem a confiar no nosso bom gosto. O objetivo é que toda semana indiquemos algum filme bacana e justifiquemos o porquê da recomendação para que você possa se interessar em vê-lo, exatamente como costumamos fazer com os nossos amigos. Pensamos num filme, reunimos alguns argumentos para defender a indicação e ficamos na torcida para que o outro fique satisfeito com a sugestão. E, claro, esperamos um retorno de vocês dizendo o que acharam, porque não tem a menor graça indicar algo para alguém e não querer saber sua reação.
Nesta semana de estreia da coluna Me indica um filme?, vamos recomendar um longa pouco popular para o grande púbico, mas que geralmente costuma agradar a quem o assiste: A Vida de David Gale. O longa é estrelado por Kevin Spacey, que voltou a estar em alta agora por conta da série da Netflix House of Cards, e Kate Winslet, e conta a história de um professor de filosofia do Texas que é condenado à pena de morte por estuprar e matar a melhor amiga, vivida por Laura Linney. A questão é que esses dois amigos são militantes exatamente contra esse sistema condenatório permitido em 36 dos 50 estados americanos. Pra complicar a situação de Gale, já consta no seu passado uma acusação de estupro feita por uma de suas ex-alunas, que tentou se vingar dele por não conseguir ser aprovada em sua matéria.
A poucos dias de ser sumariamente executado, Gale convida uma jornalista (Kate Winslet) para entrevistá-lo na prisão, a fim de que ela possa ao menos contar sua versão da história e apontar as falhas dessa prática judiciária que pode acabar com sua vida mesmo que ela prove sua inocência. E um dos motivos de o filme ser bastante interessante (ainda que este não seja o melhor filme sobre o tema*) é justamente a discussão que ele traz sobre a eficácia da condenação a morte, ainda mais atualmente, já que foi divulgado há poucos dias que o número de execuções por pena de morte teve um aumento de 15% em 2013. Em seus últimos dias de vida, Gale terá de convencer a jornalista de que sua história é boa o suficiente para que ela (1) se convença de que ele é inocente e (2) possa descobrir a verdade sobre o caso da morte de sua amiga.
O filme traz ótimas atuações de Kevin Spacey e Kate Winslet, assim como as de Laura Linney e da pouco conhecida na época Melissa McCarthy. Mas vale muito a pena assisti-lo também por ser o último trabalho do diretor Alan Parker, o mesmo dos ótimos Coração Satânico, Mississipi em Chamas e o musical Pink Floyd The Wall entre outros, que embora não esteja oficialmente aposentado, está afastado do cinema desde o lançamento deste filme, em 2003. Outro ponto positivo de A Vida de David Gale é seu roteiro engenhoso, ainda que hoje em dia o cinema esteja um pouco saturado dessa característica. Mas aqui, acho que ele se sai bem exatamente porque permite que a narrativa fragmentada entre o momento presente e os flashbacks o aproxime mais do thriller que do dramalhão que a temática poderia lhe imputar.
Enfim, não falarei muito mais coisas porque espero que vocês assistam ao filme e gostem. E, claro, depois voltem aqui para dizer o que acharam!
Já que citei que este não é o melhor filme com essa temática de pena de morte, e como estamos numa estreia de coluna, serei bonzinho e deixarei a breve indicação daquele que considero o melhor longa sobre o tema: Crime Verdadeiro, dirigido e estrelado por Clint Eastwood. A história é bastante parecida até com A Vida de David Gale e talvez seja mais bem executado do ponto de vista técnico (é um Clint, afinal de contas), além de ser menos maniqueísta que o filme do Alan Parker. Mas como sua narrativa é mais clássica, ele tende a ser um pouco mais óbvio e até a cair em alguns clichês e pieguismos que podem desagradar a muita gente. Mas não deixa de ser um ótimo filme. Assistam aos dois!