Na nossa coluna Me indica um filme? desta semana, vamos comentar sobre um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos. Não, não estou falando de Invocação do Mal, que fez bastante sucesso por aqui e que cheguei a comentar no artigo Invocação do Mal e as mesmices do terror, onde falo justamente da falta de criatividade pela qual passa o gênero nos últimos anos, caindo sempre nos mesmos clichês. Hoje, falaremos de O Segredo da Cabana. Mas espera: esse filme também nada de braçadas nos mesmos clichês do gênero. Por que ele?
Lançado no Brasil apenas em home video, O Segredo da Cabana é um filme de 2012, dirigido pelo estreante Drew Goddard, que já havia assinado o roteiro de Cloverfield e, posteriormente, coassinaria o de Guerra Mundial Z. Mas o que mais me chama atenção é que ele também foi roteirista da série Lost, em alguns de seus melhores episódios. Por exemplo: lembram daquele episódio em que o Ben Linus leva o John Locke até a cabana do Jacob, que é recheado de suspense e com aquele clima bem dark? Então, parece que o cara realmente consegue captar o clima ideal para essas situações de terror.
Em O Segredo da Cabana, cinco amigos (entre eles Chris Hemsworth, o Thor) vão passar o fim de semana em uma cabana (sério?) no meio do nada, como em centenas de outros filmes de terror. Lá, eles vão interagir com materiais encontrados no porão e vão libertar entidades que irão persegui-los, como a gente já viu um milhão de vezes. A grande questão é que tudo isso faz parte de um reality show do qual eles não sabem que estão participando. Ou seja, é praticamente uma mistura de Evil Dead (com um pouco menos de humor) com O Show de Truman.
Com roteiro assinado pelo próprio Goddard juntamente com Joss Whedon (sim, de Os Vingadores), O Segredo da Cabana é um filme de terror que satiriza o próprio gênero, assim como o já clássico Pânico, de Wes Craven, fez com os slasher movies, os filmes de assassinos em série. Ao realizar um filme com todos os clichês do gênero, Goddard os utiliza exatamente para subvertê-los, ao mesmo tempo em que nos deixa tensos, presos na ponta da cadeira. Em certo momento, os ataques são tão constantes e sem espaço para respiro que você entra naquela história e pensa que aquele pode ser de fato um inferno de situação.
Além dos questionamentos do próprio gênero, ele toca no tema da espetacularização dessas “realidades alternativas”, onde tudo é motivo para virar programa de TV e ser consumido por um público que se prende a esses shows, talvez, como catarse para a própria mediocridade. Não à toa, desde os anos 90, essa temática dos reality shows tem sido aproveitada no cinema com filmes como O Sobrevivente, o próprio O Show de Truman, Ed TV, Batalha Real e o mais recente fenômeno Jogos Vorazes.
Em um mercado tomado por filmes exatamente iguais e que dificilmente trazem alguma coisa nova ao gênero, é bom que pelo menos tenhamos exemplos que questionem e satirizem esse universo, mesmo que seja produzindo algo muito parecido com aquilo que ele mesmo critica. Ou seja, se é pra fazer igual, que ao menos se reconheça como tal e não tente enganar o público com a falsa esperança de algo novo, como Invocação do Mal fez e muita gente caiu no conto do vigário.