Me indica um filme? Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

Seguindo nossa coluna “Me indica um filme?”, que estreou com a indicação de A Vida de David Gale, nesta semana vamos recomendar um longa que teve um lançamento modesto no Brasil, em 2012, e que passou despercebido por muita gente: Ruby Sparks: A Namorada Perfeita. O filme conta a história de um jovem escritor de sucesso, Calvin (Paul Dano), que passa por um bloqueio criativo após o término de um relacionamento de cinco anos. Em terapia, ele é instigado por seu analista a escrever sobre a mulher de seus sonhos e acaba criando uma personagem que, de tão perfeita, se materializa na vida real.

Com um toque de fantasia que remete de longe (mas de longe mesmo, não se prendam a isso) a Mulher Nota 1000, de John Hughes, e A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, essa comédia romântica foge um pouco (só um pouco também) dos grandes clichês do gênero e, quando os utiliza, na maior parte das vezes, é para subvertê-los de alguma forma, dando um toque um pouco mais profundo do que a maioria dos filmes desse estilo. Aqui, Calvin descobre que aquilo que escreve sobre Ruby (Zoe Kazan) acaba se tornando real, e logo passa a exercer certos poderes sobre ela.

É curioso que, por ser um filme que mostra uma visão bastante calcada na realidade de uma vida conjugal, ainda que com toques de fantasia, Ruby Sparks é, enquanto obra, uma criação de dois casais da vida real, já que é dirigido por Jonathan Dayton Valerie Faris (os mesmos de Pequena Miss Sunshine) e protagonizado por Dano (também de Pequena Miss…) e Kazan (que assina este roteiro). Na tela, vemos como as pessoas podem projetar seus desejos no outro, construindo uma figura ideal que, com o tempo, pode se mostrar diferente do esperado e frustrar os sentimentos de uma das partes, numa relação meio paradoxal de “quanto mais se conhecem, menos se amam”.

Também não ficam de fora questões que giram em torno da moral e da ética, já que Calvin pode manipular Ruby a seu bel-prazer, apenas escrevendo o que deseja que ela faça ou sinta; além de deixar no ar a reflexão sobre como pode ser o processo criativo de artistas, que para criar empatia com o público e fazer com que este se identifique e crie empatia com sua criação é preciso que ela seja o mais próxima do real em sua psicologia, ainda que seja uma obra totalmente fantasiosa como este próprio filme. O elenco ainda conta com pequenas, mas boas, participações de Antonio Banderas, Annette Bening, Chris Messina e Steve Coogan.

Vai lá, assiste e depois volta aqui pra dizer o que achou! ;)

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Jornalista e crítico de cinema. Coautor do livrorreportagem Cine Belas Artes: Um Olhar Sobre os Cinemas de Rua de São Paulo. Acha O Poderoso Chefão o melhor filme do mundo, mas torce todos os dias para assistir a algum que o supere. Ainda não encontrou, mas continua buscando. E-mail: carlos@setimacena.com // Letterboxd: @CarlosCarvalho