Sete filmes de Christopher Nolan

O Sétima Lista desta semana aproveita a estreia do excelente Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (leia a nossa crítica aqui) para relembrar os filmes dirigidos por Christopher Nolan.

Com apenas sete produções do currículo, o cineasta se consolidou como um dos principais diretores da atualidade, daqueles que arrastam milhões de pessoas ao cinema a cada lançamento. Seus filmes são marcados pela originalidade, grandes interpretações e personagens ambíguos.

Mas, acima de tudo, essas produções demonstram a preocupação do diretor em desvendar o lado mais obscuro da mente humana. Seja ela representada por um investigador desmemoriado em busca de vingança, dois mágicos querendo provar qual deles é o mais habilidoso ou um famoso Cavaleiro das Trevas tentando derrotar um ensandecido vilão vestido de palhaço

Following

O primeiro filme de Christopher Nolan conta a história de Bill, um jovem aspirante a escritor que tem o estranho hábito de seguir pessoas aleatórias em busca de inspiração. Certo dia, o protagonista cruza com um ladrão que o conduzirá ao mundo do crime.

É interessante observar que em Following, Nolan já demonstra todas as principais características dos seus filmes posteriores: roteiro bem construído, que revela boas reviravoltas na trama enxuta de apenas 70 minutos; montagem não linear; e o bom uso da trilha sonora, que ajuda a conduzir e empregar elementos de tensão à narrativa.

O longa também reserva algumas curiosidades para os espectadores mais atentos: um dos personagens principais se chama Cobb, o mesmo nome de Leonardo DiCaprio em A Origem; e, na porta de uma das primeiras casas assaltadas pela dupla, podemos ver, rapidamente, um adesivo do Batman. Seria este um presságio aos próximos passos da carreira de Nolan?

Amnésia

Logo no seu segundo filme, Nolan conseguiu conquistar crítica e público com uma história intrigante e inteligente. Amnésia conta a história de Leonard (Guy Pearce), um ex-investigador que procura o assassino da sua mulher. O detalhe é que ele sofre de perda de memória recente e se esquece das coisas logo que elas acontecem.

Durante a investigação, Leonard tira fotografia de algumas pessoas e faz algumas anotações no que fotografou para que possa se orientar no futuro. Outro método utilizado por ele é tatuar o  corpo com informações que considera pertinente, já que não pode confiar em ninguém.

Contando com um roteiro e montagem excelentes, ambos indicados ao Oscar de 2002, e ótimas atuações de Pearce, Joe Pantoliano e Carrie – Anne Moss, Amnésia serviu para mostrar toda engenhosidade da mente de Christopher Nolan, que optou em contar a história de trás para a frente para que a plateia sentisse a mesma sensação que o protagonista. Caracteristicas que fazem deste filme um dos mais originais dos anos 2000.

Insônia

Em Insônia, Al Pacino interpreta Will Domer, um policial que parte para uma cidadezinha do Alasca para investigar o assassinato de uma jovem. Ao atirar acidentalmente em um parceiro de investigação, Domer passa a sofrer chantagem de um de um dos suspeitos de matar a moça, interpretado por Robin Williams, que insiste que o investigador atirou em seu parceiro de propósito. Eis que surge uma jovem investigadora, vivida sem muito brilho por Hilary Swank, para tentar solucionar o caso.

Os grandes méritos do filme encontram-se na ótima atuação de Al Pacino e na ambientação da cidade que nunca escurece e contribui para o desespero de Domer, já que por isso passa várias noites sem dormir. Mesmo não apresentando a mesma originalidade de Amnésia, Nolan conseguiu com Insônia contar uma boa história de suspense repleta de cenas tensas, que fazem o público acompanhar o desenrolar da história com empolgação.

Batman Begins

Após a excelente repercussão de Amnésia e Insônia, o cineasta recebeu a incumbência de reinventar a franquia de Batman, que havia sido jogada na lama, em 1997, com o pavoroso Batman e Robin, de Joel Schumacher. Esta missão, além de ser cumprida com maestria por Nolan, serviu para estabelecer um novo parâmetro para adaptações de quadrinhos, que passou a ser analisadas como antes e depois de Batman Begins.

O sucesso do filme começou pela escolha do protagonista, já que Christian Bale parece ter nascido para encarnar Bruce Wayne/Batman. Na brilhante atuação do ator, vemos a transformação do personagem, construído por muito treinamento e o desejo de vingança pela morte dos seus pais, que deixam verossímeis as cenas em que herói sobrevoa por Gothan City, utilizando de aparatos construídos por ele.

Vale ressaltar que o filme conta com um competente elenco, desde os vilões Espantalho e Ra’s Al Ghul, vividos respectivamente por Cilliam Murphy e Liam Neeson, às encarnações de Gary Oldman, como o tenente Gordon, e o Alfred feito pelo grande Michael Caine. A única atuação com pouco brilho é mesmo a de Kate Holmes na pele de Rachel, grande amor de Bruce, que foi devidamente substituída por Maggie Gyllenhaal no longa seguinte.

Com cenas de ação excelentes, pontuadas pela grande trilha sonora composta por Hans Zimmer, e uma bela fotografia, que emprega um eficiente clima sombrio ao longa, Batman Begins consolidou a carreira de Nolan para o grande público e abriu com chave de ouro a nova trilogia do Cavaleiro das Trevas.

O Grande Truque

Christian Bale e Hugh Jackman interpretam dois mágicos rivais que irão até as últimas consequências para provar quem será o merecedor do “The Prestige”, o Grande Truque do título. Aqui, Nolan mostra toda a sua genialidade em contar uma história não linear, em que realidade e ficção se misturam e deixam a plateia ansiosa para cada ato dos protagonistas.

Em muitos momentos, nunca sabemos o que é real e o que é truque no filme, mérito de um roteiro engenhoso, que quebra a barreira de um simples filme de mágica para contar uma intrigante história de vingança, e de um elenco inspirado, que além de Bale e Hackman, ainda traz grandes atuações de Michael Caine e Rebecca Hall.

Scarlett Johansson tem um desempenho apenas correto, servindo apenas como decoração e escada para os protagonistas. Mas este pequeno detalhe é pouco para ofuscar o brilhantismo deste grande filme que O Grande Truque.

Batman: O Cavaleiro das Trevas

Em Batman: o Cavaleiro das Trevas, Nolan conseguiu aprimorar a saga do herói elevando a franquia a um patamar que, dificilmente será superado. Nesta sequência, o diretor apresentou todas as qualidades vistas em Batman Begins (excelente roteiro e fotografia, ótimas cenas de ação e um elenco afiado), aliadas a um vilão de encher os olhos, encarnado com uma perfeição doentia por Heath Leadger, que, infelizmente, morreu em 2008 sem ter a oportunidade de presenciar a sua ótima caracterização do Coringa nas telas, mas que foi reconhecido com um Oscar póstumo.

Contando novamente com a ajuda do tenente Gordon (Gary Oldman) e do destemido promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart), Batman, desta vez, luta contra o crime organizado que se instalou em Gotham e se fortaleceu, principalmente, após o surgimento do Coringa. Desde o início da projeção o longa carrega uma áurea de tragédia, que alerta a plateia de que, mesmo que o herói triunfe no final, não sairá ileso e deve pagar um alto preço por esta conquista.

Neste roteiro brilhantemente construído, que enfoca na crise de identidade do herói (Wayne/Batman, Dent/Duas Caras), Nolan empregou um clima realista e urgente à história, característica que ajudam o filme a quebrar o estigma de adaptação de quadrinhos, para ser comparado àquelas excelentes produções policiais dos anos 1970.  Sem dúvida alguma, eis aqui o ponto alto da carreira do diretor.

A Origem

Só mesmo a cérebro engenhoso de Chistopher Nolan para criar um mundo em que é possível entrar na mente humana para implantar uma ideia. Com um elenco brilhante, liderado por Leonardo DiCaprio, Marion Cotillard, Michael Caine e Tom Hardy, Nolan provou em A Origem que um blockbuster pode, sim, ser original e fazer a plateia pensar ao mesmo tempo em que fica de boca aberta com diversas cenas de ação e espetaculares efeitos especiais.

O filme ainda consegue, em meio às frenéticas cenas de ação, contar uma edificante história de amor envolvendo os personagens de DiCaprio e Marion, que move o protagonista a transpor todas as camadas do mundo criado por Nolan. Ainda que tenha conquistado quatro prêmios no Oscar 2011 (Fotografia, Mixagem de Som, Edição de Som e Efeitos Especiais), a impressão que fica é a de que a Academia ainda não conseguiu dar o verdadeiro valor para o cineasta, o reconhecendo apenas em categorias técnicas.

Mesmo sem o devido reconhecimento da Academia, Christopher Nolan, novamente, construiu um excelente filme, que proporciona grande diversão e fascinantes debates após a projeção, afinal, quem até hoje não se pergunta se o pião caiu ou não? Assim como a trilogia do Batman, esta é a produção que merece figurar entre as melhores do diretor.

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Jornalista, fã incondicional de Nick Hornby e coautor do livro inédito Cine Belas Artes: Um Olhar Sobre os Cinemas de Rua de São Paulo. Ainda não viu nada melhor que Asas do Desejo, de Wim Wenders... Mas Beleza Americana chegou perto. e-mail: cristiano@setimacena.com

Comentários

  1. Eu particularmente não sou um grande fã de Nolan, mas acredito sim que ele tem uma capacidade soberba em surpreender o espectador a cada filme lançado, com diferentes temas e aspectos técnicos.
    De todos os seus filmes, ainda não vi Insônia. Devo ver nas próximas semanas, pois é com uma das minhas atrizes preferidas, Hilary Swank.