Há algum tempo, tenho visto inúmeros comentários negativos a respeito de Diário de um Jornalista Bêbado, longa baseado no livro de Hunter S. Thompson, o pai do jornalismo gonzo, e que traz como protagonista o astro Johnny Depp.
No filme, Depp interpreta Paul Kemp, alterego de Thompson que vai para Porto Rico para trabalhar em um jornal local. Lá, é designado para escrever horóscopos, mas logo vê a oportunidade de produzir matérias com mais qualidade, principalmente quando conhece o milionário americano Sanderson, interpretado por Aaron Eckhart.
Sanderson pretende, junto com outros empresários, aproveitar a belíssima área costeira local para construir hotéis e imóveis de luxo, ainda que isso custe a paz e os direitos da população porto-riquenha (em sua maioria, pobre). Kemp, então, se vê num dilema ético, pois ao mesmo tempo em que começa a construir uma amizade com Sanderson (e se apaixonar pela namorada do milionário), percebe que a história pode render uma ótima matéria de denúncia para o jornal.
No entanto, esse dilema enfrentado pelo personagem é pouco explorado, principalmente porque Kemp, na maior parte do tempo, não consegue abraçar a nenhuma das duas causas, ficando sempre em cima do muro, como diz em uma das cenas na qual participa de uma reunião com os milionários americanos.
Ao contrário do que se vê em Medo e Delírio (1998), no qual Depp também interpreta Hunter Thompson, dessa vez sob a alcunha de Raoul Duke, aqui o personagem é muito mais centrado e controlado, apesar das bebedeiras, e longe de ser o junkie maluco do longa de Terry Gilliam. Até pelo fato de a história se passar numa época anterior à de Medo e Delírio, é um pouco diferente do jornalismo gonzo do autor, que se envolvia diretamente com os fatos, fazendo parte da história.
Em Diário de um Jornalista Bêbado, Thompson (ou Kemp) é muito mais um observador da história do que um personagem importante para o seu desenrolar. E mesmo no momento em que tem a chance de mostrar seu lado ético, dá a impressão de que o faz mais por motivos pessoais do que profissionais.
O pecado do filme é ver um personagem curioso como Hunter Thompson numa releitura tão desinteressante, principalmente se você já assistiu a Medo e Delírio antes, no qual seu lado jornalista praticamente não é abordado, porque não é o que realmente importa. Já aqui, além da questão jornalística ser mal aproveitada, ele não é nem o bêbado que se espera ver.