Crítica: Flores do Oriente

Narrar uma guerra sobre o olhar feminino não é muito comum, mas é assim que Flores do Oriente (The Flowers of War), do diretor chinês Zhang Yimou (O Clã das Adagas Voadoras) trata de um dos episódios mais marcantes da história da China (e do mundo).

O roteiro é baseado no livro 13 Women of Nanjin, de Yan Gelin, que narra a história do “Massacre de Naquim”, também conhecido como “Estupro de Nanquim”. Estima-se que tenha durado de dezembro de 1937 a fevereiro de 1938. A cidade, então capital da China, foi invadida pelo exército imperial japonês, e se tornou palco de estupros coletivos de mulheres e meninas, tortura e assassinato de civis.

A narradora da história é Shu (Zhang Xinyi), uma das internas do convento da Catedral Winchester, que, junto com outras estudantes e um jovem adotado pelo recém-falecido padre Ingleman, tenta sobreviver em meio a ocupação.

O coveiro John Miller (Christian Bale) acaba se juntando as meninas ao vir enterrar o padre. Pouco tempo depois, um grupo de prostitutas de um bordel próximo, também busca refúgio no convento. Depois de uma bebedeira o americano se veste de padre e acaba se tornando responsável por defender as mulheres e meninas dos soldados japoneses ávidos por tomá-las a força.

Guerra é um tema comum em filmes americanos e já nos acostumamos a visão de Hollywood sobre conflitos, mas a experiência oriental, narrada por uma adolescente provoca uma sensibilidade sobre o tema.

Para os mais exigentes o longa comete seus pecados não situando como aquela situação começou, ou com o papel totalmente inverossímil de Bale. Se fosse lançado na década de 1940, ele seria a própria propaganda política anti-Japão. Mas a questão é que esse tempo passou e a narrativa de uma mulher tende a se fixar mais na dor, nos horrores, no sentimento da Guerra e menos em datas, números e afins.

Se Christian Bale foi um nome escolhido para levar as pessoas ao cinema e gerar interesse, foi uma boa escolha, porque a atuação dele é a que menos importa. O personagem, embora com todo o esforço por cenas marcantes é ofuscado pelo olhar cativante da líder das prostitutas Yo Mo (Ni Ni) e a pureza e força da pequena Shu.

Sabe aquele clichê oriental, com chinesas cantando em seus vestidos coloridos tocando pipa em meio a uma nuvem de fumaça? Ele está lá? Mas não importa, o que vale é conhecer uma história não muito popular por aqui, e assim como lembramos com respeito das vítimas do holocausto, reverenciar as meninas de Nanquim.

 

* O filme é quase todo acompanhado por uma suave trilha do violinista Joshua Bell

 

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Jornalista e redatora de mídias sociais. Seu filme favorito é O Auto da Compadecida, mas já vê em Selton Mello a mesma sensibilidade de Guel Arraes para retratar a cultura do Brasil. Seu sonho é encontrar os DVDs com as duas jornadas de Hoje é Dia de Maria. Twitter: @BiaNaso