“Lembra de quando a gente podia fazer isso?”
Por Tiago Ursulino
Uma crítica deveria começar com uma sinopse do filme, apresentando ao leitor a premissa que guia a história. Mas, se você está realmente preocupado com a história, você está procurando pelo filme errado.
Os Mercenários 2 é a esperada continuação do filme que representou a união de alguns dos grandes nomes dos filmes de ação, pancadaria e muitos tiros dos anos 80 e 90. Dessa vez, as expectativas eram maiores: além de Sylvester Stallone, que interpreta o protagonista, Jason Statham, Dolph Lundgren e Jet Li (que, dessa vez, aparece apenas brevemente), o filme conta com a participação de Jean-Claude Van Damme (em papel de vilão!) e Chuck Norris, além de participações mais efetivas de dois atores que tiveram aparições discretas no primeiro filme, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis.
Os Mercenários 2 tem todos os exageros e ridículos que a gente gostaria que ele tivesse. O plot, como nos filmes que o inspira, é baseado nos antigos preconceitos americanos sobre os russos (agora remanescentes da Guerra Fria) e sobre o terceiro mundo (sempre imaginados como selvagens loucos). A violência é elevada e muitas vezes explícita, característica que mostra a inevitável influência da evolução do cinema americano, que cada vez se tornou menos avesso a exibições diretas de sangue e pedaços de corpo arrancados.
Mas, apesar disso, o filme é principalmente uma celebração a um tipo de filme que já não existe mais, a bem da verdade. Stallone, que recentemente reclamou da substituição do gênero de filme de ação que ele ajudou a popularizar pela onda atual de super-heróis com todos os tipos de poderes, comanda essa equipe de senhores que insistem ainda em agir como antigamente, com armas de fogo, brancas e, quando possível, com os punhos mesmo.
O filme é repleto de piadas fáceis e inevitáveis com os atores (como um Schwarzenegger que solta um “Estou de volta” a certa altura). Na verdade, é difícil dizer o que, no filme, não é piada, pois mesmo as cenas de ação exageradas são autoconscientemente planejadas para comentar, parodiar e rir da ação dos velhos filmes.
Há quem ainda não entenda isso, mas este é o ponto principal: Os Mercenários é um trabalho consciente de celebração e paródia, e é feito para dar risada de todos os erros que a gente, antigamente, não via ou não se importava em ver. Todo o filme contém comentários e piadas, também, sobre o fato de que os atores já estão velhos. Os exemplos são inúmeros, como o momento em que Stallone, ao ver o jovem do grupo subir uma colina correndo, pergunta a Statham: “Lembra de quando a gente podia fazer isso?”.
Além disso, o veículo do grupo é um avião velho; a certa altura, eles se abrigam numa cidade fantasma, velha e caindo aos pedaços, com um símbolo antigo da Pepsi indicando a época de onde ela saiu.
Vale notar que a aparição de Chuck Norris é notável e devidamente épica. Em outras palavras, hilária. E sim, o filme faz piada até mesmo das piadas que o mundo fez com seu poder indestrutível. Outro momento épico é uma cena de ação com os grandes nomes todos juntos, além da luta com a qual muita gente sonhou: Stallone e Van Damme!
Para mim, a síntese do filme é a frase final de Schwarzenegger, diante do “novo” avião que o time ganha de presente no fim da história. Não conto para não estragar. Os Mercenários 2 marca a reunião, rememoração e celebração sem compromisso de um gênero que, é claro, marcou sua época.
Um filme para a formação do caráter
Por Carlos Carvalho
Dizem por aí que um filme tem que te conquistar já nos primeiros 10 ou 15 primeiros minutos de projeção. Do contrário, o público começa a perder o interesse na trama, que não fez qualquer esforço para te manter grudado na cadeira olhando para a tela. Podem ter certeza, não é isso o que acontece em Os Mercenários 2, longa que reúne a maior parte dos astros de ação das décadas de 80 e 90 em um único filme. Um sonho para qualquer um que acompanhou essa fase áurea do cinema hollywoodiano de ação.
Se você estava em coma pelos últimos dois anos, cuidado com o que vai ler agora, pois pode voltar para ele. Em 2010, Sylvester Stallone resolveu reunir um time de peso para a produção de Os Mercenários, que viria a ser uma espécie de homenagem a esses filmes de ação que consagraram a ele e a tantos outros astros. Para este primeiro filme, escrito e dirigido pelo próprio Stallone, o astro conseguiu juntar Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Mickey Rourke, Terry Crews, o ex-lutador de MMA Randy Couture e, para apenas uma ponta, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger. Épico, não?
Então, para o segundo filme, Sly conseguiu o que parecia impossível. Sério, todo mundo sempre sonhou em ver isso. E, sinceramente, mesmo depois de ver, é difícil acreditar que realmente viu. Além de todo o elenco do primeiro filme, com exceção de Mickey Rourke, Os Mercenários 2 conta com, agora sim, cenas de ação com Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, e a adição de dois nomes estrondosos no elenco: Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris. SIM!
Diferentemente do primeiro filme, que tentava prestar uma homenagem aos clássicos filmes de ação da década de 80, mas se levava até um pouco a sério, este é assumidamente galhofa, mal feito, clichê, inverossímil e, por tudo isso e muito mais, muito melhor e mais divertido que o anterior. Aliás, me arrisco a dizer que são os 103 minutos mais divertidos do ano. Toma essa, Vingadores!
Os efeitos são mal feitos, os diálogos são clichês e cheios de tiradinhas, e a trama… bom, existe uma trama? Isso é o que menos importa em um filme com todos esses caras. Pessoalmente falando, quase toda essa turma fez parte da formação do meu caráter. Ainda criança, ao invés de estar assistindo às animações da Disney, eu vibrava vendo O Exterminador do Futuro, Rambo, Rocky, O Grande Dragão Branco, Braddock, que confesso não gostar muito, Comando Delta e Duro de Matar.
Ver esses caras todos reunidos, apesar de parecerem mais peças de museu, é muito mais do que apenas se divertir por uma hora e quarenta minutos. É parte da realização de um sonho de criança. De uma época em que esses caras disputavam para ter o melhor (e mais galhofa) filme de ação em cartaz.
A grande graça de Os Mercenários 2, além de toda a ação de primeiro nível, é o fato de que eles todos resolveram brincar com as próprias carreiras. Chuck Norris faz piada com o Chuck Norris Facts e aparece do nada, ao som de Enio Morricone, como se além de um lobo solitário, fosse um homem sem nome. Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger falam um o bordão do outro: “I’ll be back” e “Yippee-ki-yay”, Dolph Lundgren brinca com o fato de ser um brutamontes com mestrado em engenharia química, porque ele é isso mesmo na vida real. E Van Damme, o vilão, se chama… Vilain!
Ou seja, tudo aquilo que se esperava da velharada, foi mostrado. O que se espera dos mais novos, como Terry Crews e Jason Statham, também foi. Os caras são ágeis, fortes, ótimos com uma arma de fogo na mão, precisos com uma faca e ignorantes na porrada, porque filme de ação bom, tem que ser do jeito clássico. E Os Mercenários 2 já nasceu clássico. Se você gostar do filme, eu os declaro “man and knife”. Se não gostar, “rest in pieces”.
Um épico do gênero da ação. Este aqui embarca melhor na proposta da diversão nostálgica, e por isso supera facilmente o fraco primeiro filme.
avozdocinefilo.blogspot.com.br