Crítica: Killer Joe – Matador de Aluguel

Marcando o retorno do grande cineasta William Friedkin, que não fazia um novo filme desde 2006, com Possuídos, Killer Joe – Matador de Aluguel é mais um bom exemplo de cinema adulto feito sem papas na língua, sem medo de parecer pesado, sem medo de soar meio ridículo. Exatamente como eram os filmes nos anos 70.

Baseado na peça homônima de Tracy Letts, e adaptado para o cinema por ele mesmo, o filme mostra a história de Chris Smith (Emile Hirsch), um jovem problemático, membro de uma família totalmente desestruturada (sem excentricismo indie), que depois de ter suas drogas roubadas pela mãe decide matá-la para ficar com o dinheiro de seu seguro de vida.

Para isso, Chris decide que precisa da ajuda de seu pai idiota, interpretado por Thomas Haden Church, que vive em um trailer com a atual esposa, Sharla (Gina Gershon) e a filha Dottie (Juno Temple). Com o consentimento do pai e, inevitavelmente, do resto da família, Chris decide contratar o policial e matador de aluguel Killer Joe Cooper, muito bem interpretado por Matthew McConaughey.

Com uma mistura de violência e humor negro, Killer Joe é um filme com alma setentista, digna do mestre Friedkin, que em momento algum peca pelo exagero. Pelo contrário, a própria personalidade do assassino Joe Cooper, calmo, centrado e ainda assim perigoso, faz um contraponto às loucuras de cada membro daquela bizarra família. O jovem desesperado por ver a mãe morta para pagar uma dívida que pode lhe custar a vida, o pai banana e imbecil, a madrasta desleixada e que já pegou metade da cidade, a irmã, ainda inocente, e quase autista.

Sem receber um adiantamento pelo trabalho que irá executar, já que o pagamento só será feito após o recebimento do valor da apólice, Joe exige como garantia a irmã de Chris, que prontamente é “vendida” por ele e seu pai como mercadoria de troca pelo serviço. É nesse ambiente grotesco, insano e cheio de esquisitices que se passa a trama.

Praticamente sem trilha sonora, ressaltando ainda mais a crueza de cada cena, e recheado de diálogos onde a tensão do que pode acontecer durante eles reina absoluta, principalmente quando McConaughey está em cena, Friedkin dá uma aula de direção de atores e composição de cenas digna de seus melhores trabalhos nos anos 70 e 80, como O Exorcista, Operação França e Viver e Morrer em Los Angeles.

O cineasta soube como tirar o melhor de cada um de seus atores, principalmente McConaughey e Juno Temple, para compor personagens ambíguos, intensos, amorais e surpreendentes. Um ótimo filme, que parece ter passado despercebido lá fora, mas que merece muito ser visto, acompanhado de um balde de frango frito em substituição à pipoca. Ou não.

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Jornalista e crítico de cinema. Coautor do livrorreportagem Cine Belas Artes: Um Olhar Sobre os Cinemas de Rua de São Paulo. Acha O Poderoso Chefão o melhor filme do mundo, mas torce todos os dias para assistir a algum que o supere. Ainda não encontrou, mas continua buscando. E-mail: carlos@setimacena.com // Letterboxd: @CarlosCarvalho