Em outubro de 2012, a conceituada revista Time reservou algumas de suas disputadas páginas para falar da carreira de Daniel Day–Lewis. O mais interessante de tudo é que na capa a revista estampou o rosto de Lewis acompanhado do título em letras garrafais: “O Maior Ator do Mundo”. Esta distinção pode até ser considerada exagerada para alguns, mas, de fato, poucos atores da atualidade são dignos de ostentá-la quanto este excepcional ator inglês.
Filho do conceituado poeta britânico Cecil Day–Lewis, logo cedo o ator descobriu a vocação para as artes. Ainda adolescente, atuou em peças de teatro, participou de programas da televisão inglesa e fez pequenas em participações no cinema, como Domingo Maldito, Rebelião em Alto Mar e no premiado Gandhi.
Os primeiros grandes papeis de Lewis no cinema vieram em 1986, ano em que ator explodiu em Uma Janela para o Amor, de James Ivory, na pele de um intelectual almofadinha que nutre um amor não correspondido pela personagem de Helena Bonham Carter; e em Minha Adorável Lavanderia, do conceituado diretor Stephen Frears, em que não teve pudores para dar vida a um ousado forasteiro que se apaixona por um imigrante paquistanês. Estas duas produções ajudaram Lewis a conquistar o respeito da crítica e renderam a ele, inclusive, o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante da Crítica de Nova York.
Dois anos depois, ele teve uma participação sem muito brilho no longa americano Stars & Bars. Ainda em 1988, Lewis colocou em prática, pela primeira vez, os seus intensos métodos de preparação, adquirindo um sotaque tcheco e lendo muitos livros de medicina para interpretar o personagem Thomas de A Insustentável Leveza do Ser. Neste filme, dirigido por Philip Kaufman, Lewis viveu um tórrido triângulo amoroso com Juliette Binoche e Lena Olin e, a partir daí, passou a ser apontado com um dos grandes galãs do cinema.
Pouco se importando com este rótulo, no ano seguinte, o ator passou por uma intensa preparação, locomovendo-se por meio de uma cadeira de rodas e precisando ser alimentado pelos profissionais do set de filmagem. Este esforço foi para dar vida ao personagem Christy Brown de Meu Pé Esquerdo (1989), que, por ter nascido com paralisia cerebral, tem o movimento do corpo restrito, movendo apenas o pé esquerdo, utilizando-o até mesmo para pintar quadros.
Todo este esforço não foi em vão, pois Lewis faturou pelo filme de Jim Sheridan, entre outros prêmios, o Oscar de Melhor Ator, desbancando o até então favorito Tom Cruise, por Nascido em 4 de Julho. Em seguida, o ator se destacou em O Último dos Moicanos, em que viveu o par romântico de Madelaine Stone.
No ano seguinte, Lewis brilhou em duas produções. Na primeira delas, dividiu-se novamente entre duas mulheres (Winona Ryder e Michelle Pfeiffer) no romântico Época da Inocência, de Martin Scorsese. Depois, foi novamente indicado ao Oscar de Melhor ator, pelo seu excelente desempenho no drama político Em Nome do Pai, em que, para dar vida a um jovem irlandês injustamente condenado por terrorismo, conviveu com alguns presidiários e só se alimentou com refeições preparadas na prisão.
Após três anos dedicados ao teatro, o ator retornou ao cinema no longa As Bruxas de Salém, novamente contracenando com Winona Ryder. Esta talvez seja uma das atuações menos arrebatadora do ator, mas durante as filmagens Lewis conheceu a sua atual esposa, Rebecca Miller, filha do roteirista do filme, Arthur Miller.
Depois de atuar pela última vez sob a batuta de Sheridan em O Lutador, o ator declarou que andava insatisfeito com o cinema e se refugiou por quase cinco anos em Florença, na Itália, onde chegou até a abrir uma sapataria. Para alegria dos fãs (e do cinema) Lewis foi convencido por Scorsese a aceitar viver o cruel açougueiro Bill, de Gangues de Nova York, na qual pode novamente por em prática a sua intensa preparação, aprendendo o ofício de açougue e ouvindo Eminem para expressar o ódio que o personagem necessitava.
Atuando ao lado de Leonardo DiCaprio e Cameron Diaz, Lewis recebeu novamente uma indicação ao Oscar de Ator. Em O Mundo de Jack & Rose, Lewis atuou sob a batuta da esposa. Mas para aceitar o papel e, segundo ele, compor o personagem que vivia numa comunidade isolada, o ator ficou três meses morando sozinho e só reencontrou Rebecca nos sets de filmagem.
Já no drama Sangue Negro (2007), de Paul Thomas Anderson, o ator se preparou para o papel do ambicioso Daniel Plainview trabalhando em usinas de petróleo e, por mais esta excelente caracterização, arrebatou o segundo Oscar de Melhor da sua carreira.
No projeto seguinte, o musical Nine, de Rob Marshal, baseado no clássico 8 e 1/2, de Federico Fellini, Lewis reviveu o papel de Guido Contini, imortalizado no filme original por Marcello Mastroianni. Apesar de contar também com Judi Dench, Nicole Kidman, Penélope Cruz e Marion Cotillard no elenco, este filme não obteve o reconhecimento esperado da crítica, mas a atuação de Lewis saiu incólume.
Em 2012, o ator assombrou a todos com a interpretação “espírita” do 16º presidente americano, Abraham Lincoln, no drama Lincoln, de Steven Spielberg. Com uma composição física excepcional e uma entonação de voz que demonstra, ao mesmo tempo, cansaço e determinação, Lewis deixou a temporada de premiação um pouco mais sem graça, arrebatando todos os principais prêmios deste ano, como Globo de Ouro, SAG, Critic’s Choice, Bafta… E parte, sem nenhum obstáculo, para ser o único ator a acumular três Oscar de Melhor Ator.
Aos 55 anos, Daniel Day–Lewis conta com o respeito de público, de crítica e também dos companheiros de profissão, desde atores em ascensão, como Bradley Cooper, também indicado à Categoria de Melhor Ator, que chegou a declarar ser uma honra dividir o palco com Lewis, e de diretores consagrados, como Scorsese e Spielberg, que não mediram esforços para tê-lo nas suas produções. Por tudo isto, só resta torcer para que o ator continue por muito tempo nos brindando com suas raras, mas excelentes aparições na tela.